Bom, estou em Brasil há mais de 15 anos, hoje posso dizer que sou brasileiro também, pois esse país de braços abertos me acolheu como um filho. Já me adpatei ao modus vivendi do povo do Brasil, que por sinal é um povo maravilhoso, e se assemelha em nós em algumas coisas, mas no começo foi muito difícil minha adaptação quando aqui cheguei. Primeiramente pela linguagem, como sofri para entender portugues, sofri muito, em Egito eu via algumas pessoas falando português em Cairo, mas não conhecia uma só palavra. Minha famíli é do sul do Egito, viviamos em um pequeno povoado em Luxor, e lá entre nós coptas tinha muitos familias que falam fluentemente essa língua na familia, usam o arabe no dia a dia fora de casa, e como e tradição ensinar crianças a falar ela para que não se perca, eu fui uma dessas crianças, de origem familiar muito humilde, minhas primeiras palavras foram em copto, aprendi arabe com uns 6 anos, e o ingles muito tempo depois. O tempo foi passando fomos para Cairo, uma cidade bem grande, movimentada, claro, não como São Paulo, mas para um menino do sul do Egito acostumado com a realidade do campo aquilo era novidade, de um lado o esplendor das piramides e do outro uma cidade grande em constante evolução, onde vivi uma parte de minha adolescencia.  Passado alguns anos por iniciativa dos meus pais, decidimos sair do Egito, mas ir para Estados Unidos ou Brasil ? O Brasil foi a escolha, e aqui haviam algumas pessoas conhecidas de minha família. Quando aqui chegamos eu me deparei com um universo totalmente diverso daquele que conhecia desde Luxor ao Cairo. Fui aprendendo a ir nos lugares sem auxílio de brasileiros, mas onde eu abria a boca em São Paulo as pessoas me olhavam com um certo espanto, e me perguntavam de onde eu vinha, de qual país do oriente médio e o que eu pretendia fazer aqui no Brasil, mas essas perguntas tinham um quê de curiosidade, e quando falava do Egito, recebia um sorriso e lá vinham assuntos de faraos, mumias e piramides, rsrsrsrsrs
 

Levei um bom tempo para me adpatar a linguagem do portugues brasileiro, mas aos poucos fui entendo e falando, dando continuidade a minha formação academica no Brasil, e confesso que nos primeiros tempos foi penoso, não apenas pela linguagem em si, mas as piadas que recebia, pois eu era diferente, tinha costumes totalmente antiquados aos moldes brasileiros, e claro um sotaque muito forte, uma mistura de copta e arabe, lembrando que o copta ou egípcio, um idioma que nem é conhecido pela maioria dos egípcios, apenas nossa comunidade fala ele. E de repente eu no Brasil, o choque cultural foi muito grande, não só para mim, mas tambem para meus pais, se bem que eles já conheciam um pouco da cultura daqui. O Brasil em termos de aceitação de costumes de um estrangeiro é o melhor país do mundo, aqui eu posso ser egípcio ou brasileiro, rs, já no Egito, a coisa é bem diferente, lá o estrangeiro tem que ser egípcio, nem todo lugar lá é igual, varia muito de região para região, mas no sul o tradicionalismo ainda é grande. Uma coisa que estranhei muito aqui foi a comida, mas quando se fala estranhar, pode dar conotação negativa, ao contrário, adorei a comida brasileira, mas como a maioria dos estrangeiros que vem de fora, a princípio voce estranha, pois aquele cardápio é totalmente diversificado daquele que costumeiramente voce em Egito era habituado, até os horários daqui eu diria que foi de dificil adaptação, aqui os horarios de almoço, janta, dormir, trabalhar, etc, são diferentes do que eu tinha enquanto lá vivia. Mesmo após esse lapso temporal em que vivo no Brasil, não deixei de ser egípcio, e ainda sim, embora abrasileirado, rs, alguns costumes daqui são de dificil aceitação, mesmo depois de tanto tempo vivendo aqui, mas até ai é uma questão cultural, são países de culturas diferentes, eu não posso querer construir um Egito dentro do Brasil, cada povo tem seu modus vivendi e isso deve ser entendido e compreendido por nós que aqui chegamos.
 
Se eu for comparar o padrão de vida que tenho hoje no Brasil em relação ao Egito, diria que é uma grande distância entre um ponto e outro, ou seja, obvio que a vida aqui no Brasil é melhor, isso porque nem estou comparando com Luxor, mas com o proprio Cairo, a capital de nosso país, que é uma cidade enorme em desenvolvimento. Problemas político e sociais não só o Brasil possue, mas o Egito e ainda outros, cada nação tem suas diferenças e seus problemas internos, desde quando me conheço por gente o Mubarak é presidente no Egito, e isso eu diria que me incomoda bastante, é uma política completamente inaceitável que está instalada no Egito, e creio que não seja bom para a maioria de nós egípcios. Assim como o Egito, minha pátria amada o meu povo é bendito, diria o mesmo aqui dos brasileiros e sua pátria que hoje também considero minha por amor a essa terra e a esse povo que me acolheu com compreensão e carinho e que me deu oportunidade para poder viver, viver em paz, ter alegria sem qualquer perseguição governamental. Uma coisa que me agradou muito aqui no Brasil é a liberdade de expressão e de religião, garantidas pela constituição brasileira, não que eu esteja criticando duramente meu país, mas como cidadão egípcio que sou tenho todo o direito de expressar meu pensamento acerca da conjuntura política de meu páis e seu ordenamento jurídico contraditório, não sou obrigado aceitar tudo o que se passa lá, evidentemente é uma questão pessoal que prefiro não discutir ! Muitas vezes é fácil olhar o Egito como turista, mas vivenciar a realidade local nem sempre é simples, por outro lado, amo o meu país, e quero que as coisas um dia mudem, que venha um governo mais justo e que tenha mais dignidade respeitando verdadeiramente todos cidadãos egípcios sem qualquer distinção de etnia ou credo religioso !
 
Aprendi amar o Brasil da mesma forma e na mesma intensidade que amo o Egito, é aqui que vivo, é aqui que pretendo viver de agora em diante, e que Deus abençoe a todos brasileiros que estão no Egito, e todos nós egípcios que estamos no Brasil e no mundo.